A música "Sorte da porra", cantada por Felipe Araújo, abriu de vez a porta para uma fase do "sertanejo desbocado". Se antes os palavrões estavam aparecendo discretamente nas letras, agora foi parar até no título, mostrando uma nova tendência - que já era bem conhecida entre artistas do rock e do funk.
Nos últimos meses, faixas com expressões coloquiais sem censura têm figurado nos rankings das plataformas digitais. Algumas delas:
Em entrevista ao vivo no g1 Ouviu, o podcast e videocast de música do g1, Felipe Araújo comentou que não escolheu gravar as duas músicas ("Última Noite" e "Sorte da Porra") por causa do palavrão, e, sim, porque gostou delas.
Dono de hits como "Na hora da raiva", "Edinalva" e "Seu perfil", Matheus diz que existe um cuidado para que o uso dessas palavras nunca tenha o sentido de ofensa. "É sempre bom ser colocado da forma certa, para não ficar uma coisa que agride ou que seja prejudicial a outra pessoa."
Matheus atribui a era digital, que atinge um púbico mais jovem, como o fator que impulsionou a tendência de uma era mais desbocada no sertanejo. "Com a era digital, essas músicas começaram a performar muito bem. Então acho que foi um gatilho para se usar cada vez mais."
Felipe Araújo já precisou editar a música "Atrasadinha", trocando a palavra "vinho" por "jantarzinho". O verso original que diz "vamos pular a parte que eu peço aquele vinho do bom" se transformou em "vamos pular a parte que eu peço um jantarzinho bom". "Última Noite" também já ganhou uma versão soft, trocando o "foda-se" por "hoje".
Nas plataformas de streaming, como o Spotify, não há mudança nas palavras, mas a música vem acompanhada de uma etiqueta que identifica que a faixa contem "conteúdo explícito" (por isso, a letra "E" ao lado do nome de algumas canções).
Matheus conta que, às vezes, os compositores já deixam uma alternativa pronta. Ele atenta para o cuidado na hora da composição, porque dependendo da métrica dos versos, pode ser difícil achar uma palavra em substituição. "Se essa palavra cai numa rima, muitas vezes é difícil fazer essa troca por outra que fique bom."
Embora seja parte do novo álbum de Felipe Araújo, "Última Noite" foi composta na chácara de Luan Santana e deveria fazer parte do álbum "Luan City 2.0", gravado em março de 2023. Na época, Matheus Costa, Lucas Ing, Matheus Di Pádua, Felipe Viana e Eliabe Quexin se reuniram para fazer um intensivo de composições para o disco do cantor.
"Luan gostou bastante de 'Última Noite', só que na reta final, eles decidiram que a 'Meio Termo' se encaixava mais no projeto." Assim, o grupo ofereceu a música para Felipe Araújo. Eles, então, explicaram que Luan tinha gostado da faixa e, como Felipe já queria fazer uma parceria com Luan, o convite foi feito e aceito. "Saiu do Luan e voltou pro Luan", diz Matheus, ao brincar sobre a faixa.
Já a "Sorte da Porra", assinada por ele com Lucas Ing, Mateus Candotti e Thales Lessa, nasceu de uma ideia já pensada por um dos compositores. "O [Lucas] Ing queria falar sobre uma pessoa que queria achar alguém parecido, semelhante a ele. Porque ele já tava cansado de ser enganado e tudo. Então, ele queria alguém que fosse trouxa também."
Mas será que o enredo nasceu com base na história de alguém? "Então... muitas vezes a gente vem baseado em uma história de alguém que tá sofrendo por isso, que tá passando por isso, né? Nesse caso, eu não sei se o Lucas já tava com essas questões sentimentais dele. Mas agora ele tá muito bem, tá namorando."
Fonte: G1